Aline é uma peso-pesado do crescente mercado da música gospel. Uma das artistas mais representativas da música gospel, com quase 30 anos de carreira, ela já lançou mais de 27 discos, 13 DVDs, ganhou 6 Grammys Latinos, e também está atualizada nos novos formatos: tem websérie no Youtube, está forte nos serviços de streaming, criou a Gospel Nation, plataforma digital para se aproximar do público, e continua em ascensão.
A artista faz parte e representa o crescimento de todo um mercado gospel, que movimenta cerca de R$ 20 bilhões por ano em diferentes segmentos da economia, com a criação direta de mais de 2 milhões de empregos no país, segundo dados do Salão Internacional Gospel de São Paulo, maior feira do setor na América Latina que está na 5ª edição.
Expansão de mercado que acompanha o crescimento do número de consumidores, muito vinculado ao aumento de evangélicos no país. São três em cada dez brasileiros - 60,2 milhões, representando 29% da população, segundo o Instituto Datafolha. Aumento que vem se intensificando: em 1991, eram 9%; em 2010, 22%. E a previsão da Sepal - Servindo Pastores e Líderes é que, em 2020, a maioria dos brasileiros seja evangélico. Já para o IBGE, só em 2040. "Há 15 anos, o número de adeptos das pentecostais e neopentecostais cresceu nos tempos em que a economia brasileira crescia. Cresceu também a pregação da teologia da prosperidade, seu poder midiático e político", analisa o Joêzer Mendonça, professor de música da PUC-PR e autor do livro "Música e Religão na Era do Pop" (Editora Appris, 2014). "E, desse forte mercado evangélico, a música gospel é a espinha dorsal", completa.
Os números divulgados pela Pro-Música Brasil, antiga Associação Brasileira de Produtores de Discos, e pelo Salão Internacional Gospel reforçam: no país, estimasse 4,5 mil cantores e bandas de música gospel e movimento de R$ 1,5 bilhão por ano; na venda de CDs e DVDs, movimento de cerca de R$ 500 milhões anuais; são dez novos CDs lançados todo mês; no país todo, 600 rádios e 157 gravadoras trabalham com música gospel.
Em 2016, na lista discos mais vendidos, quatro são desse segmento religioso: Pe. Fábio de Melo (5º), Pe. Reginal Manzotti (6º), Alessandro Campos (7º) e Damares (8ª). Entre os DVDs, o do Pe. Reginaldo Manzotti foi o décimo mais vendido. Os dados são da BMAT, empresa que se dedica a indexar toda a música produzida no mundo.
Da indústria fonográfica ao streaming
Das seis gravadoras que integram o Pro-Música Brasil, antiga Associação Brasileira de Produtores de Discos, cinco já estão envolvidas com o segmento gospel: a Sony Music Brasil criou selo especializado em 2010; na Som Livre, há o espaço Você Adora; em 2013, a Universal Music Brasil criou o selo Christian Group; a Warner Music Brasil anunciou, neste ano, a primeira contratação de um artista gospel; e a MK Music, que se dedica apenas a esse nicho desde 1986.
Segundo o diretor artístico e de repertório do selo gospel da Sony Music Brasil, Maurício Soares, 18% do Ebit (lucros antes de juros e tributos) da empresa vem desse segmento religioso. "Alcançamos o ponto de equilíbro três anos antes da nossa meta e, hoje, depois de mudamos o modelo de negócio, o formato de conteúdos, o foco dos artistas, as iniciativas e estratégias de marketing, estamos com foco 100% no digital", conta.
Além desses investimentos da indústria fonográfica, os serviços de streaming também estão acompanhando o crescimento gospel. Em 2016, a plataforma Deezer criou o canal gospel, mantém um curador especializado e já aponta o segmento entre os cinco gêneros mais ouvidos. No mesmo ano, uma pesquisa feita pelo Spotify mostrou o Brazilian Gospel como o nono estilo musical de maior crescimento de consumo no mundo.
"Não é um estilo musical. É um modo de produzir música"
Outro fator que pode explicar o crescimento da música gospel no Brasil, a partir da conquista de novos públicos, é a diversidade de gêneros musicais. Pregador Luo está no hip-hop há mais de 20 anos; Salomão traz a tranquilidade do reggae; André e Felipe, o balanço do sertanejo; DJ PV, se aventura pelo eletrônico; e Os Arraiás levam a Palavra através do indie-folk.
"O gospel é um guarda-chuva que abriga gêneros diversos. É um modo de produzir música", analisa o professor de música Joêzer Mendonça. "A diversificação atende a uma demanda comercial, de públicos que querem ouvir seus temas prediletos nos estilos que gostam. Por outro lado, também é utilizada como ferramenta de evangelização, buscando camadas sociais que talvez não ouviriam a mensagem evangélica por outro veículo musical".
Para Maurício Soares, do selo gospel da Sony Music Brasil, devemos entender esse nicho musical por seu conteúdo e não pela forma. Bem por isso, não entra na lógica de "gênero da moda", como acontece com outros estilos. "Se entrasse nessa lógica, estaria na moda há milhares de anos", completa Joêzer Mendonça.
Essa diversidade é motivo de comemoração para Aline Barros. "Independente de ritmo e formato, acho ótimo a gente inovar, alcançando mais pessoas com a força de uma música que restaura o coração", afirma. Para ela, além da qualidade das produções, a variação de ritmos acaba conquistando, inclusive, não evangélicos. "O ser humano deseja ouvir uma mensagem que traga paz, esperança, alegria e vida plena. Isso é o que cantamos", complementa.
De todo esse cenário, a única baixa que o gospel parece ter sofrido foi o da cantora Perlla, que em julho anunciou que deixaria a Palavra para retornar ao estilo em que iniciou a carreira, o funk. Tirando isso, vai tudo muito bem. Graças a Deus.